Nos bastidores da indústria de eventos, há uma diferença sutil — e essencial — entre crescer e sustentar o crescimento.
De fato, o brilho de eventos grandes pode encantar, mas é nos bastidores que se revela a verdadeira força deles: sua coerência, propósito e consistência ao longo do tempo.
Nem sempre o que é grande é, de fato, profundo. Há eventos em que isso fica claro: quanto mais pessoas, mais luzes, mais palcos — às vezes, menos trocas verdadeiras acontecem.
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Crescimento orgânico importa mais que tamanho |
O problema de se fazer um evento grande é mantê-lo grande ao longo dos anos.
Um evento saudável (inclusive financeiramente) normalmente nasce pequeno, cresce com o tempo — e com uma periodicidade coerente — até encontrar o seu teto natural.
Há eventos que crescem rápido demais e o movimento deixa de ser orgânico. O crescimento logarítmico revela uma base frágil. E quando a curva se estabiliza, percebemos que o desafio não era crescer — era sustentar o próprio tamanho.
Os encontros que realmente transformam costumam ter outro ritmo. São menores, mais silenciosos, e por isso mesmo mais significativos. A força deles está na escuta, na qualidade das conversas e na conexão genuína entre quem participa.
E foi observando diferentes formatos de eventos que percebi como esse equilíbrio — entre o crescimento e a sustentabilidade — se manifesta na prática.
📊 Exemplos na prática
1️⃣ Eventos de grande porte insustentáveis:
Há eventos cujo próprio tamanho se torna insustentável quando realizados anualmente. Nesses casos, trata-se de um equívoco de planejamento: o formato de grande porte não se sustenta, ou ao menos não comporta uma periodicidade anual — devendo ser bienal (ou até mais espaçado). Muitas vezes, essa limitação é perceptível no próprio perfil do mercado, em que certos segmentos simplesmente não geram inovações ou novidades suficientes para justificar uma realização anual.
2️⃣ Eventos com crescimento forçado:
Também há eventos extremamente saudáveis e sustentáveis, com uma curva de crescimento orgânica e natural, que alcançam um determinado platô — um “teto” que deve ser identificado e respeitado. Mas, no afã de obter resultados sempre crescentes, a promotora pode impor ao evento um crescimento além do natural — números maiores, forçados, irreais, um crescimento impossível. Vi valores de inscrição ultrapassarem o nível hierárquico do público congressista; vi cotas de patrocínio se tornarem inviáveis até para as marcas mais fiéis. Resultado: o crescimento imposto foi o que matou o próprio evento.
3️⃣ Eventos sustentáveis:
Por fim, há os eventos realmente sustentáveis, nos quais o promotor respeita a curva de crescimento natural, inclusive o momento em que o evento atinge seu platô. Nesses casos, se o promotor deseja aumentar seus resultados — em faturamento ou alcance —, pode diversificar horizontalmente: ampliar opções de merchandising, formatos de participação e adesão, sem precisar aumentar o tamanho físico do evento em si.
🌿 Conclusões
Cabe ao promotor fazer a leitura correta da curva de crescimento de seus eventos e perceber que o desafio não é continuar crescendo, e sim sustentar o próprio tamanho.
Quanto aos participantes — expositores, patrocinadores ou congressistas —, vale observar atentamente as edições do evento de que costumam participar. Uma simples observação revela quando o evento alcança o teto natural. Se a próxima edição envolver mudanças significativas no tamanho do espaço, cidade de realização ou valores de participação, cautela.
O desafio em manter um evento sustentável está em lembrar que impacto não se mede em metros quadrados, mas naquilo que permanece depois que as luzes se apagam.
Crescimento orgânico importa mais que tamanho!